Igor Monteiro – Capoeirista, Pós-doutorado em Sociologia Urbana (UFC), Doutor em Sociologia (UFC), professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

Roda de capoeira, com os integrantes do Centro Cultural Capoeira Água de Beber, nas margens da Lagoa da Itaperaoba – Serrinha, Fortaleza-CE.Enter a caption
Para além de sua inscrição rebelde no curso da história, a capoeira apresenta-se como algo da ordem da resistência também no que se refere às tentativas, sobretudo mobilizadas por parte da academia, de domesticá-la a partir de definições rígidas, de representações totalizantes e de aspirações de pureza. Ao considerá-la em termos de experiência, ou seja, tomando como horizonte suas figurações concretas, o que parece surgir – engendrando, pelo menos a meu ver, um enorme desafio para qualquer pesquisador ou pesquisadora – é uma expressão de pluralidade, afeita – justamente por este caráter múltiplo – a noções tais como a de mistura, movimento e rasura, por exemplo.
Explico-me melhor, mais que um jogo, uma dança ou luta – como, comumente, era definida por determinados discursos, situados em certos momentos históricos – a capoeira deve ser pensada de maneira mais alargada, tendo reconhecida sua constituição complexa que envolve, apenas à título de ilustração, dimensões como as da ludicidade, ancestralidade, alacridade, circularidade, oralidade e musicalidade. Ainda sob esta perspectiva mais dilatada, a capoeira passa a ser compreendida como uma espécie de dispositivo de reflexão histórico-social, passível de acionamento em distintos contextos (na escola, na comunidade, na rua etc.), que não deixa de ser investida também de conteúdos políticos.

Integrantes do Centro Cultural Capoeira Água de Beber em ação na rotunda do elevado do Aeroporto Internacional Pinto Martins – Serrinha, Fortaleza-CE.