Hesitação vacinal: Desafios e oportunidades


Joana Mendonça & Ana Patrícia Hilário – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa


Epidemia de sarampo em 2017 teve dois surtos coincidentes” – Trata-se do título de uma notícia do jornal Público datada de 13 de janeiro de 2018, referindo-se aos surtos de sarampo ocorridos em duas localidades do país – Lisboa e Algarve – e dos quais resultou uma morte e cerca de 29 infetados. Apesar de Portugal apresentar uma das taxas mais elevadas de vacinação infantil da Europa (≥95%)1, estes dados alertam para o crescimento progressivo de grupos anti-vacinação no país, a par da tendência global. A Organização Mundial da Saúde alerta para os perigos inerentes à hesitação vacinal, considerando-a uma das 10 maiores ameaças à saúde pública na medida em que coloca em causa a imunidade de grupo contra doenças outrora consideradas erradicadas2 .

É neste contexto que surge o projeto “VAX.TRUST – Addressing vaccine hesitancy in Europe”, o qual é financiado pela Comissão Europeia (Grant Agreement Nº 965289) e está a ser desenvolvido em 7 países europeus: Bélgica, Itália, Finlândia, Portugal, Reino Unido, República Checa e Polónia. Este projeto tem como principal objetivo uma compreensão mais aprofundada do fenómeno da hesitação vacinal, isto é, da recusa ou adiamento de vacinas por parte dos pais. A hesitação vacinal é um fenómeno complexo que requer um conhecimento profundo acerca dos pais hesitantes, dos seus valores e motivos subjacentes ao adiamento ou recusa da vacinação dos seus filhos. É importante compreender: i)  quem são estes pais?; ii) quais as suas práticas na gestão da saúde dos seus filhos?; iii) como promovem a saúde das crianças e as tratam em caso de doença? Com o objetivo de responder a estas questões, foram realizadas 31 entrevistas a pais hesitantes em Portugal os quais cumpriam, cumulativamente, 2 critérios de elegibilidade: ter pelo menos um filho com idade igual ou inferior a 6 anos; e já ter adiado ou recusado pelo menos uma vacina.

Os resultados obtidos demonstram que os pais hesitantes tendem a adotar um estilo de vida ‘alternativo’ caracterizado por práticas naturalistas na gestão da saúde dos seus filhos. Exemplos destas práticas são a preferência pelo parto natural e humanizado, o uso de medicina personalizada e com base em componentes naturais ao invés de medicamentos, a amamentação prolongada e em livre demanda, a dieta vegetariana ou macrobiótica, a preferência por modelos de educação alternativos  (por exemplo, Montessori ou Waldorf), o adiamento da entrada na escola e a preferência pelo ensino doméstico. Com base na adoção conjunta destas práticas, os pais procuram promover o sistema imunitário dos seus filhos com base “naquilo que a natureza oferece” e tornando assim a vacinação algo menos necessário ou até mesmo dispensável.

Estes resultados vão ao encontro da ideologia de uma  ‘parentalidade intensiva natural’ cuja premissa fundamental é a singularidade de cada criança e a subsequente necessidade de prestação de cuidados de saúde de forma ‘integrada e personalizada’. Esta posição leva os pais a questionar frequentemente a medicina ocidental atual, percecionada como sendo altamente massificada e pouco sensitiva às características e necessidades individuais de cada criança. À luz dos pais hesitantes, o esquema único de vacinação vigente em cada país reflete esta estandardização dos cuidados de saúde, sendo amplamente criticado e impulsionando os pais a decidirem de forma individualizada acerca daquelas que consideram ser as melhores práticas de vacinação para cada um dos filhos.

Os resultados deste estudo permitiram, pela primeira vez, estabelecer a ligação entre a hesitação vacinal e a ideologia da parentalidade intensiva natural em Portugal. Esta informação poderá ter especial relevância na personalização da comunicação acerca da vacinação infantil dirigida aos pais hesitantes.

Com o propósito de sensibilizar os profissionais de saúde para uma melhoria na sua interação com estes pais e degolar alguns dos estereótipos subjacentes aos pais que optam por adiar ou recusar as vacinas dos seus filhos, têm vindo a ser desenvolvidas várias intervenções com os profissionais de saúde. De facto, vários estudos têm sublinhado que a polarização dos discursos anti-vacinação leva a uma discriminação e estigmatização quer destes pais, quer das crianças, sendo um promotor de desigualdade social. A reflexividade social surge como ferramenta necessária para a desconstrução de estereótipos em torno da hesitação vacinal. Com este intuito elaborámos no projeto, em parceria com uma ilustradora e uma designer, um livro onde disseminamos os resultados de forma leve e divertida e, ao mesmo tempo, propomos um novo modelo de comunicação a adotar por parte dos profissionais de saúde. Este novo modelo de comunicação tem por base um estilo motivacional e surge em contraponto ao modelo paternalista de comunicação dominante entre a grande maioria dos profissionais de saúde. Acreditamos que o desenvolvimento de uma comunicação centrada na família irá permitir aos pais e aos profissionais de saúde criarem pontes entre si que visem a promoção do bem-estar e a saúde das crianças.

Figura 1. Representação do modelo de comunicação paternalista3

Figura 2. Representação do modelo de comunicação baseado no estilo motivacional (centrado na família)3


Joana Mendonça é bolseira de pós-doutoramento no projeto “VAX.TRUST – Addressing vaccine hesitancy in Europe” financiado pela Comissão Europeia. Foi bolseira de investigação no projeto europeu “SIforAGE – Social Innovation for an active and healthy ageing” tendo igualmente colaborado na “Campanha Global de Combate ao Idadismo” promovida pela Organização Mundial da Saúde. Exerceu funções como professora assistente convidada no IPAM. Concluiu o doutoramento em Psicologia em 2020 no ISCTE com a tese intitulada “O que pensam as crianças acerca dos mais velhos? – Desenvolvimento do idadismo explícito e implícito ao longo da infância”. Os seus interesses de investigação focam-se nas áreas da saúde, envelhecimento, idadismo, preconceito e infância.

Ana Patrícia Hilário é investigadora auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. É uma das coordenadoras nacionais do projeto VAX-TRUST – Addressing Vaccine Hesitancy in Europe. Foi co-coordenadora da secção de Sociologia da Saúde e da Doença da Associação Europeia de Sociologia. Doutorou-se em Sociologia na Royal Holloway- University of London em 2015.


1 https://www.sip-spp.pt/media/2mjprbfw/boletim-n4-pnv.pdf

2 https://www.who.int/news-room/spotlight/tem-threats-to-global-health-in-2019

3 Hilário, A. P. & Mendonça, J. (2023). Quando a hesitação vacinal bate à porta [Pocket book]. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Nota: Este projeto recebeu financiamento através do programa de pesquisa e inovação European Union’s Horizon 2020 com o Grant Agreement N.º 965280 (This project has received funding from the European Union’s Horizon 2020 research and innovation programme under Grant Agreement N.º 965280).


Como citar este artigo: Mendonça, J., & Hilário, A.P. (2023). “Hesitação vacinal: Desafios e oportunidades”. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2023/04/20 20 abril de 2023 (Acedido a xx/xx/xx)

Uma mensagem para os doutorandos do ICS: testemunho da minha experiência


Silvia Di Giuseppe – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa


O doutoramento é, seguramente, um caminho longo e complexo, mas que também proporciona imensa satisfação. Se voltasse atrás estou certa que o faria novamente. Queria começar o meu testemunho desta forma, porque acho que é a mensagem mais importante que posso transmitir aos novos e às novas estudantes de doutoramento.

Frequentei o programa de doutoramento Sociologia OpenSoc, que terminei em março de 2022 com a apresentação da tese “Estar online e offline: práticas e representações de mulheres portuguesas e italianas na sociedade digital”. Estou muito feliz com a defesa da minha tese, um momento verdadeiramente único onde pude debater o meu trabalho e receber críticas construtivas que, de alguma forma, marcam o fim de um caminho – uma espécie de “rito de passagem” que introduz o/a aluno/a na comunidade científica. 

No entanto, gostaria de começar desde o início, ou seja, a razão pela qual decidi fazer um doutoramento em Portugal e em particular em Lisboa, uma vez que sou italiana e venho de Roma. A primeira resposta que posso dar é que sempre tive uma grande paixão, a Sociologia. Esta relação com a Sociologia vem desde os tempos em que frequentei a Universidade La Sapienza de Roma, onde me formei. Pesquisei, informei-me e então descobri que o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa era uma excelente escola de ensino pós-graduado e de renome mundial. Nasceu, então, o desejo de fazer parte deste Instituto, para progredir no meu percurso académico e profissional na área da investigação em ciências sociais.

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Um futuro melhor


Daniela Craveiro – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa


Imaginar um futuro melhor para nós e para a nossa comunidade é mais difícil do que parece. Temos de estabelecer premissas, como identificar as pessoas e contextos em que nos centramos, ou definir o que queremos melhorar, e de que forma.

No geral, temos dificuldade em pensar a longo prazo com clareza, especialmente sobre o nosso próprio percurso[1]. Mas é uma tarefa que pode ser transformadora a nível individual ou a nível comunitário, na medida em que nos ajuda a mapear prioridades, alternativas, e planos de ação. Nos cenários imaginados dificilmente entram considerações sobre rugas ou cabelo branco, mas no futuro, mesmo no nosso melhor futuro, envelhecemos – envelhecemos melhor, mas envelhecemos ainda assim.

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A vacinação em debate nos meios de comunicação social em Portugal


Juliana Chatti Iorio & Katielle Silva – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa


O debate sobre vacinação tem sido recorrente nos meios de comunicação social em Portugal, mas foi agudizado no quadro da pandemia provocada pelo novo coronavírus (COVID-19). Notícias sobre vacinas, vacinação, movimentos anti vacinas, para além das notícias de verificação de factos (fact-checking), ganharam maior visibilidade no contexto pandémico.

Com base num relatório produzido para o projeto «VAX.TRUST – Addressing vaccine hesitancy in Europe» – financiado pela Comissão Europeia – que está a ser desenvolvido em Portugal e em mais 6 países (Bélgica, Itália, Finlândia, Reino Unido, República Checa e Polónia), tentamos perceber os discursos pelos artigos publicados em três jornais de grande circulação em Portugal (Correio da Amanhã, Observador e Público). Para tal, selecionamos artigos (noticiosos ou de opinião) que continham as palavras “vacinação”, “vacina”, “imunidade”, “imunização” e “inoculação” durante dois períodos:

(1) Antes de 11 de Março de 2020 – período PreCOVID-19;

(2) Depois de 11 Março de 2020 (incluindo esta data) – período COVID-19.

Características da Amostra:

Jornais (N, %)PreCOVID-19 (N)(%)COVID-19 (N)(%)
Correio da Manhã9360%21759,4%
Observador2818%7821,4%
Público3422%7019,2%
Total155100%365100%

Fonte: Elaboração Própria

Dos 520 artigos analisados, o Correio da Manhã foi o jornal com mais publicações em ambos os períodos. Isto deve-se ao facto deste jornal fazer uma atualização diária das informações, não correspondendo à publicação de novos artigos, mas sim à republicação de artigos com um maior desenvolvimento. Por outro lado, o Observador e o Público, apostaram mais na publicação de artigos com análises mais profundas, publicados uma única vez. De qualquer modo, os três jornais utilizaram muitos artigos provenientes de Agências de Notícias (Lusa, AFP, Reuters, etc), implicando que os temas discutidos não fossem muito diferentes entre eles.

O poder de persuasão das notícias

Desde o período PreCOVID-19 os jornais portugueses mostram-se preocupados com a disseminação de informações falsas (Fake-News). Nesse sentido, para além de iniciarem a prática da verificação de factos (fact-checking) – o que é positivo,passaram a dar mais voz àsfontes de informação que consideravam mais credíveis (Revistas científicas; Médicos; Especialistas; etc). Nesse sentido, observamos que os textos publicados por estes jornais (jornalísticos ou de opinião), apresentavam uma estrutura argumentativa que acabava por persuadir o público-alvo a pensar de uma determinada maneira.

No caso da vacinação infantil, atentamos para o facto de, desde o período PreCOVID-19, poucos textos promoverem uma discussão com grupos ou pessoas hesitantes da vacinação infantil, ou mesmo com aqueles que recusavam vacinar os seus filhos. Isto foi nítido, uma vez que tais textos não apresentavam qualquer tipo de contra-argumentação proveniente destes grupos. Se, por um lado, o objetivo destes jornais era o de primar pela veracidade das informações, por outro lado, como garantir essa veracidade sem ouvir o que todas as fontes têm a dizer? Como dizer que determinados movimentos são “baseados em teorias da conspiração”, ou rotular os seus intervenientes de “charlatões”, sem lhes dar voz?

Durante o período da COVID-19 este padrão foi mantido, já que os artigos publicados por estes jornais passaram a utilizar adjetivos como “mito”, “negacionismo”, etc, quando se referiam àqueles que não acreditavam nos perigos da COVID-19 e nem confiavam na vacina contra esse vírus. Neste período, estes jornais apostaram, ainda mais, em fontes provenientes de estudos científicos e opiniões de médicos e especialistas favoráveis à vacinação contra a COVID-19, mas poucos foram os que referiram os possíveis efeitos adversos desta vacina, ou que colocaram em causa a sua eficácia. Os médicos e peritos que colocavam em dúvida a confiança nesta vacina, também não tiveram voz nesses jornais.

Por isso, ainda que durante a COVID-19, o objetivo de grande parte dos textos publicados pelos jornais analisados tenha sido o de desconstruir as Fake-News relacionadas à vacina contra a COVID-19, observamos que as pessoas anti vacinas apareceram sempre associadas às notícias falsas, e que nunca tiveram voz enquanto individualidades. Quando ouvidas, isso acontecia enquanto grupos ou movimentos homogéneos.

É facto que, tanto no período PreCOVID-19, como durante a COVID-19, os atores coletivos, ou seja, as organizações formais, foram as fontes de informação mais utilizadas por estes jornais. Enquanto no período PreCOVID-19 os representantes das estruturas ligadas aos governos (como o Serviço Nacional de Saúde – SNS e a Direção Geral de Saúde – DGS) foram aqueles que mais tiveram presença nestes jornais, seguido por organizações governamentais, cientistas e instituições de pesquisa; durante a COVID-19, foram os representantes/chefes de Estado que passaram a ter uma maior visibilidade.

Fontes de Informação:

Atores coletivos organizações formais referenciadas nos enxertos das notícias analisadasPreCOVID-19Durante a COVID-19
Estruturas ligadas aos governos (ex. “o SNS, a DGS, etc.”)  e seus representantes (ex. “o/a diretor/a-geral de saúde, as autoridades de saúde, etc.”)4317
Organizações Governamentais (ex. “a OMS, a Comissão Europeia, etc.”)2722
Institutos de Pesquisa/ Universidades e seus cientistas1312
Associações/ Sindicatos/ ONGs1012
Representantes/Chefes de Estado, Ministros/as, Secretários/as de Estado, Líderes parlamentares (ex. “o/a Ministro/a, o/a Rei/Rainha, o/a Presidente, etc.”) 633
Instituições Privadas (ex. farmacêuticas), Financeiras (ex. bancos), Religiosas 48

Fonte: Elaboração Própria

Também foi interessante observar que, no período PreCOVID-19, as estruturas ligadas não só ao governo português, mas também aos países que possuem uma relação histórica com Portugal, como Moçambique e Angola, foram as mais referenciadas. Nesse sentido, os discursos divulgados por essas estruturas demonstravam preocupação com as doenças que já possuíam vacinas e estavam controladas em Portugal, como o sarampo e a tuberculose, mas que ainda não estavam controladas naqueles países; ou com as doenças cujas vacinas estavam a ser desenvolvidas para controlar determinados surtos (como a cólera) naqueles países. Além disso, o sarampo, a hepatite B, a meningite, o vírus do papiloma humano (HPV) e o da gripe, apareceram nas notícias como as grandes preocupações das estruturas ligadas ao governo português. Deste modo, os discursos centravam-se nas medidas de prevenção e de incentivo à vacinação contra essas doenças, nunca colocando em causa a eficácia dessas vacinas, e nunca dando visibilidade aos grupos hesitantes de vacinação. Ressaltavam, portanto, a importância das vacinas no combate a essas doenças, procurando reiterar a confiança na vacinação para o controlo das mesmas.

Durante a COVID-19, menos relevo foi dado aos discursos das estruturas governamentais, e menos importância ainda foi dada aos discursos dessas estruturas em países que possuem relações históricas com Portugal. Devido ao coronavírus, a atenção foi dada à China, uma vez que este vírus havia surgido naquele país; e as notícias também passaram a referir países como os Estados Unidos da América e o Reino Unido, uma vez que estes destacaram-se no desenvolvimento das vacinas contra o coronavírus.Assim, neste período, para além dos representantes/chefes de estado, as organizações governamentais comoa Organização Mundial da Saúde (OMS), a Comissão Europeia, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Agência Europeia de Medicamento (EMA) foram os atores que mais tiveram destaque nos jornais analisados. Os seus discursos referiam o reconhecimento à ciência, ao desenvolvimento e à distribuição das vacinas, para além do testemunho de figuras públicas à favor da vacinação (algo não observado no período anterior).

Contudo, enquanto no período PreCOVID-19 as organizações governamentais não vinham à comunicação social reconhecer o mérito dos cientistas e de suas pesquisas, durante a COVID-19, esses atores passaram a ser referenciados com o reconhecimento público dessas organizações.

Pode-se dizer, portanto, que a análise desses jornais demonstrou que os temas da vacinação, do acesso à vacina, da relevância da vacina no combate a doenças e das Fake News, foram recorrentes em todos os jornais,em ambos períodos analisados, e que tiveram como mensagens centrais: (1) “as vacinas melhoram a vida”, (2) “previnem doenças” e (3) “protegem a saúde de todos”.

Nota: Este projeto recebeu financiamento através do programa de pesquisa e inovação European Union’s Horizon 2020 com o Grant Agreement N.º 965280 (This project has received funding from the European Union’s Horizon 2020 research and innovation programme under Grant Agreement N.º 965280).


Juliana Chatti Iorio é doutora em Geografia Humana – Migrações, pelo Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa; mestre em Comunicação e Indústrias Culturais pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, e licenciada em Comunicação Social – Jornalismo – pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Brasil). Atualmente é investigadora pós-doc para o Projeto Vax-Trust – Addressing vaccine hesitancy in Europe, no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, e investigadora colaboradora no Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (CEG-IGOT) e no Centro de Investigação de Estudos Sociológicos (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).

Katielle Silva é doutora em Geografia Humana, pelo Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa; mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e Geógrafa pela Universidade Federal de Pernambuco (Brasil). Foi investigadora pós-doc no Projeto Vax-Trust Addressing vaccine hesitancy in Europe, no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Atualmente é Professora Adjunta da Universidade de Roraima e investigadora no Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (CEG-IGOT) da Universidade de Lisboa


Como citar este artigo: Iorio, Juliana Chatti & Silva, Katielle (2022). “A vacinação em debate nos meios de comunicação social em Portugal” Antes e Durante a COVID-19. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2022/05/18 18 maio de 2022 (Acedido a xx/xx/xx)

Pesquisa social, ética e intervenção: algumas reflexões a partir da prática


Luis Puche, investigador na Universidade de Málaga, Espanha e investigador visitante no ICS-ULisboa.


Os grupos de investigação são espaços privilegiados para fazer crescer o conhecimento através do debate, enriquecendo-o com novas perspectivas que complexificam, corrigem, matizam e sempre aprimoram as nossas abordagens iniciais. Também nos ajudam a trazer à luz os silêncios ou os aspectos menos explícitos de nossas pesquisas. Durante o tempo em que fiz parte do GI LIFE e dos seus seminários de trabalho, tivemos a oportunidade de debater e refletir coletivamente sobre dois aspectos que normalmente consideramos menores ou subsidiários na pesquisa social: a ética e a aplicabilidade das Ciências Sociais. São dimensões de pesquisa que constantemente nos levantam questões, que muitas vezes colocam dilemas de difícil resolução e aos quais não costumamos dar a atenção e o tempo de discussão que merecem.

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O impacto do género nos cuidados de saúde de mulheres com sintomas pré-menstruais


Rita Morais, doutorada em Psicologia pelo ISCTE-IUL (2020), é Bolseira de Pós-Doutoramento no âmbito do projeto VAX.TRUST no Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, desde abril de 2021.


Quando entrei na sala de consulta da minha ginecologista para mais uma consulta de rotina estava longe de imaginar que ia sair de lá com uma ideia para o meu doutoramento. Naquela tarde, após os exames de rotina, queixei-me que todos os meses antes do meu período aparecer tinha alguns sintomas que me deixavam demasiado em baixo. Para além das dores abdominais e do inchaço, sintomas mais comuns aquando da chegada da menstruação, eu ficava demasiado irritada, muito sensível e deprimida. Eram dias muito cinzentos para mim. Percebi que começava novamente a “ganhar vida” uns dias depois da menstruação chegar, e associei quase de imediato os meus sintomas ao meu ciclo menstrual. Naquela tarde, achei por bem queixar-me à ginecologista daquilo que para mim era mais do que um simples incómodo.

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Uma nova fase da recepção da obra de Norbert Elias em Portugal?


Diogo Silva da Cunha, ICS-ULisboa, estudante no doutoramento em Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade da Universidade de Lisboa, com bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PD/BD/135240/2017)


A recepção da obra de Elias foi tardia e irregular. O Processo Civilizacional, publicado em 1939, teve inicialmente poucos leitores. Esta situação atormentou Elias durante vários anos. Perseguia-o um sonho: atendia um telefone, mas não era ouvido, pediam que falasse mais alto. Ele gritava; a voz insistia: “Fale mais alto, não consigo ouvi-lo” (Elias, 2013 [1984]: 135). Do outro lado, por vezes, escutava-se melhor, porém Elias nunca se considerou ouvido. Este post explora algumas ideias sobre a recepção da sua obra em Portugal, procurando expor o horizonte de uma nova fase.

Foto de Norbert Elias © Norbert Elias Foundation, Amsterdam
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O desenvolvimento social dos valores de crianças e adolescentes em tempos de pandemia


Iva Tendais, ICS-ULisboa


Esta é a história de um projeto de investigação que se adaptou às condicionantes da pandemia da COVID-19 e superou os seus objetivos ao dar voz, até ao momento, a mais de sete mil crianças, adolescentes e pais de todo o país. Neste artigo, partilho as estratégias que, estou convencida, explicam uma boa parte do sucesso de participação nos inquéritos online realizados durante o primeiro e o segundo períodos de confinamento em Portugal.

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No ‘olho do furacão’: compreender a hesitação vacinal em Portugal e na Europa


Ana Patrícia Hilário, ICS-ULisboa Rita Morais, ICS-ULisboa


Como é que pais compreendem a hesitação vacinal? Como é que os profissionais de saúde entendem a hesitação vacinal? Quais os principais desafios que os profissionais de saúde enfrentam em torno da hesitação vacinal? Estas são as principais questões que norteiam o projeto «VAX.TRUST – Addressing vaccine hesitancy in Europe», financiado pela Comissão Europeia (Grant Agreement N.º 965280) e que está a ser desenvolvido em Portugal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e na Universidade Nova de Lisboa (UNL). O projeto está também a ser realizado na Bélgica, Itália, Finlândia, Reino Unido, República Checa e Polónia, e pretende desenvolver recomendações sob o ponto de vista da hesitação vacinal, tanto ao nível nacional, como ao nível Europeu.

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Investigação à deriva – Museus, jovens e uma pandemia


Carolina Silva, investigadora auxiliar no ICS-ULisboa.


18.03.2020. Regressava passados quase sete anos a Lisboa. Uma viagem planeada para Julho, mas antecipada inesperadamente pela pandemia. Tivemos quatro dias para tomar uma decisão, empacotar a casa, marcar e remarcar viagens, suspender planos e sair.

Londres-Lisboa. Foi talvez o voo mais silencioso que fiz. O medo, a incerteza e a expectativa de chegar a casa eram partilhados por todos, espaçadamente sentados. Numa altura em que nada era claro, aterrámos numa cidade prestes a fechar.

Passaram-se quase dois meses.

Neste tempo suspenso, de espera colectiva, fui acompanhando o encerramento dos museus um pouco por todo o mundo. Um encerramento físico que deu gradualmente lugar a iniciativas no espaço virtual. Para Karen Gron, Directora do Trapholt Museum of Modern Art and Design na Dinamarca, os museus que já desenvolviam um trabalho de continuidade com os seus públicos estavam melhor preparados para lidar com os desafios do confinamento, do que os museus que dependiam maioritariamente de públicos transitórios, nomeadamente turistas, e de estratégias de vendas, resultantes, por exemplo, dos seus restaurantes e livrarias. Este pressuposto é evidente na capacidade de resposta que os programas de jovens em museus de arte contemporânea tiveram.[1]

Exemplos de resiliência, resultado de um investimento sustentado, ao longo das últimas décadas, numa abordagem de cocriação – com e para os jovens -, destaco, no panorama internacional, três projetos desenvolvidos durante o primeiro confinamento: Pause – A digital Teen Night, dos MOCA Teens, Museum of Contemporary Art de Los Angeles (EUA); GENEXT Goes Online, do Youth Committee, Museum of Contemporary Art Australia; e Home: Live > In Room do programa de jovens da Whitechapel Gallery. No contexto nacional, onde a relação das instituições culturais com os jovens, fora do âmbito escolar, se começa a firmar, evidenciam-se os programas BoCA Sub-21 e o Imagina 15-25 da Fundação Calouste Gulbenkian. Todos, em diferentes graus, se adaptaram criativamente às restrições impostas pela pandemia, um caminho trilhado com os jovens, em resposta aos seus interesses e inquietações.

A relação entre museus e jovens, com ênfase para o contexto português e para o investimento recente, a nível internacional, em programas profissionalizantes para jovens em museus de arte contemporânea, é o foco do meu projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums”, em curso no ICS, no âmbito de uma bolsa Marie Curie (2020-2023). De que forma podem programas continuados em museus contribuir para o desenvolvimento pessoal, sociocultural e profissional dos seus participantes? Quais são as percepções, motivações e expectativas dos jovens ao participar em programas educativos e de formação profissional em museus de arte contemporânea? Em que medida se articulam com as suas ambições profissionais no sector cultural e criativo?

Usando uma abordagem de investigação colaborativa, o projeto está a ser desenvolvido em parceria com o maat – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, e em diálogo com a ecologia sociocultural envolvente. Com enfoque no crescente investimento dos museus em programas profissionalizantes, irei investigar o potencial de uma programação por etapas (tier-based program) para envolver este grupo etário, entre os 15 e os 25 anos, uma vez que oferece aos participantes diferentes oportunidades de acesso ao museu. Pretendo também compreender a forma como estes programas podem gerar mudanças nas atitudes institucionais em relação aos jovens e influenciar a sua programação futura para este grupo.

Com início em Setembro de 2020, no epicentro da pandemia, tornaram-se igualmente visíveis os desafios e as oportunidades de pensar a relação dos jovens com os museus neste contexto. Se, por um lado, o encerramento dos museus condicionou a sua oferta educativa e trabalho de extensão, por outro lado, criou um momento de reflexão raro no acelerado passo da programação cultural. Havia agora uma disponibilidade, a nível nacional e internacional, para pensar sobre o trabalho feito e sobre o futuro, cuja incerteza abria portas a soluções mais experimentais. Foi importante aproveitar esta fissura como ponto de entrada e de diálogo com os interlocutores culturais do território do projecto, o eixo de Belém, Ajuda e Alcântara, entretanto estendido também a Almada.

A rede que comecei a criar com profissionais da área educativa do maat, BoCA, Casa da Cerca, Galerias Municipais e LU.CA, ganhou uma expressão inesperada. E com ela uma nova questão de investigação: pensar o potencial de uma programação por etapas não apenas dentro de uma instituição, mas entre instituições, permitindo aos jovens um percurso mais autónomo, diversificado e participativo na programação cultural que lhes é dirigida. Central para este diálogo será também a voz dos jovens e de outros interlocutores sociais, nomeadamente representantes das Juntas de Freguesia, Agrupamentos de Escola, instituições sociais e associações juvenis. O momento destes contactos foi adiado pelas restrições impostas pela pandemia. Há uma dimensão interpessoal, da ordem dos afetos, determinante na criação de relações de proximidade e de confiança. Se a miríade de plataformas digitais disponíveis para encontros online nos permite chegar a quase todo lado, os encontros presenciais criam, potencialmente, espaços de partilha mais significativos. A importância da presença torna-se mais evidente quando se pretende chegar a interlocutores à partida distantes do espaço do museu e das suas práticas, incluindo da programação com e para jovens.

O pressuposto de uma investigação colaborativa é o de incerteza, ou de desconhecido, perante um caminho que se quer feito com e não sobre. Este pressuposto é exponenciado quando a ele se alia uma incerteza global sobre o presente e, também, sobre o futuro. Recordo o conceito de deriva, proposto por Guy Débord e os Situacionistas: “In a dérive one or more persons during a certain period drop their relations, their work and leisure activities, and all their other usual motives for movement and action, and let themselves be drawn by the attractions of the terrain and the encounters they find there” (Débord, 1956/2001, para. 2). Interessa-me este movimento sem rumo, onde se encontram caminhos não antecipados, aliado, como no processo situacionista de deriva, a um questionamento crítico desses mesmos encontros. Pensar a relação entre museus e jovens em tempos de pandemia é colocar a incerteza ao centro e investigar com ela.


[1] Silva, C. (2021). Pockets of resilience – The creative responses of youth collectives in contemporary art museums during lockdown. (Artigo submetido para publicação)


Carolina Silva é investigadora auxiliar no ICS-ULisboa, com uma bolsa Marie Skłodowska-Curie. Actualmente está a desenvolver o projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums” em parceria com o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT). É doutorada em Educational Studies pelo Goldsmiths, Universidade de Londres, com tese sobre colectivos de jovens em museus de arte contemporânea. Entre 2017 e 2020 foi curadora do programa para comunidades na Whitechapel Gallery em Londres. Tem trabalhado e publicado sobre educação em museus, educação artística e cultura visual, práticas artísticas e pedagogias participativas.


Como citar este artigo: Silva, Carolina (2021). Investigação à deriva – Museus, jovens e uma pandemia. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2021/05/18 18 de maio (Acedido a xx/xx/xx)