Silvia Di Giuseppe – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa
O doutoramento é, seguramente, um caminho longo e complexo, mas que também proporciona imensa satisfação. Se voltasse atrás estou certa que o faria novamente. Queria começar o meu testemunho desta forma, porque acho que é a mensagem mais importante que posso transmitir aos novos e às novas estudantes de doutoramento.
Frequentei o programa de doutoramento Sociologia OpenSoc, que terminei em março de 2022 com a apresentação da tese “Estar online e offline: práticas e representações de mulheres portuguesas e italianas na sociedade digital”. Estou muito feliz com a defesa da minha tese, um momento verdadeiramente único onde pude debater o meu trabalho e receber críticas construtivas que, de alguma forma, marcam o fim de um caminho – uma espécie de “rito de passagem” que introduz o/a aluno/a na comunidade científica.
No entanto, gostaria de começar desde o início, ou seja, a razão pela qual decidi fazer um doutoramento em Portugal e em particular em Lisboa, uma vez que sou italiana e venho de Roma. A primeira resposta que posso dar é que sempre tive uma grande paixão, a Sociologia. Esta relação com a Sociologia vem desde os tempos em que frequentei a Universidade La Sapienza de Roma, onde me formei. Pesquisei, informei-me e então descobri que o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa era uma excelente escola de ensino pós-graduado e de renome mundial. Nasceu, então, o desejo de fazer parte deste Instituto, para progredir no meu percurso académico e profissional na área da investigação em ciências sociais.
Este é o Post-Scriptum, a rubrica mensal em que damos destaque às publicações de investigadores/as do LIFE Research Group (ICS-ULIsboa).
Boas leituras!
No que diz respeito a capítulos de livro, neste mês de Fevereiro destacamos três publicações.
Começámos pela entrada produzida por Ana Nunes de Almeida sobreFamilia no livro sobre conceitos-chave na Sociologia da Infância (organizado por Catarina Tomás). Retomando o contributo pioneiro de Philippe Ariés, a autora alude à emergência da dimensão sentimental em relação à infância como um dos pilares fundadores e constitutivos da família moderna e contemporânea.
Alda Botelho Azevedo, em co-autoria com colegas de Espanha e França, publica um capítulo sobre a insegurança residencial, numa obra sobre populações e crise nos Países do Mediterrâneo. Os autores afirmam que a insegurança residencial surge da incapacidade de antecipar ou responder a ameaças, nomeadamente financeiras, sobre a habitação. A emergência desta realidade é ilustrativa da crescente incerteza nas sociedades contemporâneas, em especial no rescaldo da última grande crise económica. O conceito alude não apenas aos indicadores estruturais do acesso à habitação, mas também à percepção subjetiva e vital de insegurança.
Por fim, em Plan B: the abandonment of journalism in Portugal, José Nuno Matos continua o seu trabalho sobre as alterações estruturais na área do jornalismo. Neste capítulo explora as trajetórias profissionais de 28 ex-jornalistas, argumentando que o modo como a perda de emprego ocorre desempenha um papel fulcral nos mecanismos de coping desenvolvidos pelos profissionais e, em última instância, nas suas perspectivas e subsequentes trajetórias profissionais.
CAPÍTULOS
Ana Nunes de Almeida Família/Family In Tomás, C. et al (Eds), Conceitos-chave em Sociologia da Infância. Perspetivas. Globais Key concepts on Sociology of Childhood. Global Perspectives, pp. 249-258 Braga: Universidade do Minho Editora. DOI 10.21814/uminho.ed.36.31 http://hdl.handle.net/10451/50648
Este é o Post-Scriptum, a rubrica mensal em que damos destaque às publicações de investigadores/as do LIFE Research Group (ICS-ULIsboa).
O ano de 2022 começa com novidades, embora ainda referentes a publicações que viram a luz do dia no final do ano passado.
Em termos de Capítulos, a primeira menção vai para a publicação de Social media and the streets: student occupation in Brazilian High School, que Vitor Sérgio Ferreira escreveu em co-autoria com Miriam Leite e Valéria Floriano Machado. Integrado num livro sobre protestos estudantis contemporâneos, o capítulo analisa os novos repertórios de ação política, a tendência de autonomização face às instituições políticas tradicionais, bem como as reivindicações anti-hierárquicas dos movimentos juvenis no ensino secundário no Brasil.
José Machado Pais contribui com a entrada Jovem/Youth no livro Conceitos-chave em Sociologia da Infância. PerspetivasGlobais. O capítulo traça uma evolução das representações e definições de juventude, salientando a variabilidade histórica e geográfica que continua a marcar a forma como esta fase da vida é vivida e pensada.
No que diz respeito a artigos, destacamos quatro novas publicações.
Em Sibling caring roles and responsibilities when a child suffers from a chronic illness, Ana Patrícia Hilário aborda sociologicamente o papel de irmãs/ãos no cuidado a crianças e jovens com doença crónica. A autora procede a uma revisão da literatura, concluindo que conhecer as responsabilidades/papéis assumidos é relevante para entender as relações familiares nestes contextos, assim como para a melhoria dos cuidados de saúde.
Em Pockets of Resilience – the Digital Responses of Youth Collectives in Contemporary Art Museums During Lockdown, Carolina Silva discute os projetos digitais desenvolvidos por coletivos de jovens em três museus metropolitanos de arte contemporânea durante os confinamentos impostos pela pandemia de Covid-19 (EUA, Austrália e Reino Unido). Partindo da análise dos conteúdos digitais produzidos e de entrevistas com responsáveis pelos serviços educativos dos museus, a autora conclui que o sucesso das iniciativas depende do estabelecimento de relações de confiança entre museus, educadores e participantes.
Pedro Alcântara da Silva é co-autor (com Alina Abidova e Sérgio Moreira) de Understanding Complaints in the Emergency Department. Este artigo tem por base um estudo acerca dos determinantes das queixas dos pacientes de serviços de emergência hospitalar. O estudo mostra que as reclamações resultam de um conjunto complexo de processos, envolvendo efeitos diretos, mediadores e moderadores. Conclui-se que a melhoria dos serviços impõe que se considerem as experiências de grupos específicos de pacientes.
Por fim, Maria Manuel Vieira, em co-autoria com Lia Pappámikail e Tatiana Ferreira, publica Fazer a ciência chegar mais longe: reflexões sobre o outreach universitário. Como indica o título, trata-se de uma reflexão em torno das atividades de extensão universitária. As autoras começam por analisar os principais modelos e paradigmas de divulgação científica. Em seguida, a partir das suas experiências na atividade “Estágios científicos de verão”, dinamizada no OPJ/ ICS-ULisboa e dirigida a alunos do secundário, refletem sobre as potencialidades, limites e desafios de iniciativas de promoção da educação e cultura científica para não académicos.
José Machado Pais Jovem/Youth In Tomás, C. et al (Eds), Conceitos-chave em Sociologia da Infância. Perspetivas. Globais Key concepts on Sociology of Childhood. Global Perspectives, pp. 313-320 Braga: Universidade do Minho Editora. DOI 10.21814/uminho.ed.36.39 http://hdl.handle.net/10451/50469
Após uma interrupção durante o verão, está de volta o Post-Scriptum, a rubrica mensal em que damos destaque às publicações de investigadores/as do LIFE Research Group (ICS-ULIsboa).
O primeiro destaque deste mês de outubro de 2021 vai para o livro Os Sujeitos do Neoliberalismo, obra coletiva organizada por Fernando Ampudia Haro e pelo nosso colega José Nuno Matos, que acaba de ser publicada pela Edições Outro Modo – Tigre de Papel. Este livro parte de uma definição ampla do neoliberalismo, concebendo-o enquanto doutrina económica, mas também como forma de engenharia social, ambas destinadas à formação de uma ordem de mercado. A obra, mais do que analisar autores, momentos ou figuras, incide sobre algumas das subjetividades criadas pelo neoliberalismo (do estafeta ao analista financeiro, passando pelo desempregado).
Entre outros, o livro conta com ensaios do próprio José Nuno Matos sobre a condição jornalística (Jornalista: Trabalho, Neoliberalismo e Subsunção) e de Teresa Duarte Martinho sobre os artistas (Artista: Entre a Performance Competitiva e a Existência como Fuga).
No que diz respeito a artigos em revista, saiu neste mês um número especial do Journal of Applied Youth Studies dedicado aos NEETs (os jovens que não se encontram a estudar, trabalhar ou a receber formação profissional). O número é organizado pelas nossas colegas Maria Manuel Vieira, Tatiana Ferreira e Lia Pappámikail, que rubricam um editorial sobre o processo de reconhecimento social desta realidade juvenil nas sociedades europeias.
Por fim, realce para um artigo de Ana Patrícia Hilário e Fábio Rafael Augusto sobre os desafios éticos na pesquisa sobre os processos de fim de vida. Este texto, publicado na Revista Pesquisa Qualitativa, aborda as estratégias de mitigação de riscos e do sofrimento por parte de todos os envolvidos, oferecendo um debate em torno dos “bastidores” da pesquisa.
LIVROS
Fernando Ampudia Haro, José Nuno Matos (Eds..) Os Sujeitos do Neoliberalismo Lisboa: Edições Outro Modo, Tigre de Papel
CAPÍTULOS
José Nuno Matos Jornalista: Trabalho, Neoliberalismo e Subsunção In Haro, Fernando Ampudia, Matos, José Nuno (Eds.), Os Sujeitos do Neoliberalismo, pp. 207-227 Lisboa: Edições Outro Modo, Tigre de Papel
Teresa Duarte Martinho Artista: Entre a Performance Competitiva e a Existência como Fuga In Haro, Fernando Ampudia, Matos, José Nuno (Eds.), Os Sujeitos do Neoliberalismo, pp. 179-205 Lisboa: Edições Outro Modo, Tigre de Papel
Esta é a rubrica mensal em que damos destaque às publicações de investigadores/as do LIFE Research Group (ICS-ULIsboa).
Neste mês de maio de 2021 damos destaque a dois artigos recentemente publicados.
Em What does it Mean to be a Man? Trans Masculinities, Bodily Practices, and Reflexive Embodiment, Sofia Aboim e Pedro Vasconcelos exploram as práticas corporais de indivíduos trans-masculinos entrevistados no Reino Unido e Portugal. Na sua multiplicidade, as trajetórias destes indivíduos demonstram como as experiências corporais moldam e redefinem masculinidades, iluminando o nexo entre corpos, personificações e representações discursivas da masculinidade. As tensões entre o natural e o tecnológico, o material e o discursivo ou o feminino e o masculino são elementos-chave para a compreensão das narrativas trans-masculinas sobre o corpo, a corporificação e a identidade. O artigo foi publicado na importante revista Men and Masculinites.
Em Child Custody Preferences in Light of Attitudes Toward the Couple’s Division of Labor in Portugal, Sofia Marinho e Rita Gouveia examinam as atitudes de homens e mulheres em relação às diferentes modalidades de residência das crianças após a separação/divórcio dos pais. Os resultados indicam que polarização entre o favorecimento da residência alternada versus residência individual é fortemente moldada pelas atitudes em relação à divisão do trabalho familiar. O artigo saiu na prestigiada revista Journal of Marriage and the Family.
Laura Martins de Carvalho Assistente de pesquisa no Centro de Administração Pública e Governo – Fundação Getúlio Vargas
Este post apresenta os resultados referentes ao estudo de campo em Lisboa da tese “Agricultura Urbana em contextos de vulnerabilidade social na zona Leste de São Paulo e em Lisboa, Portugal”, onde foram investigados os Parques Hortícolas de Carnide (bairro Padre Cruz) e do Vale de Chelas. Em perspectiva sócio-histórica, o post mostra os potenciais, os desafios e as limitações da agricultura urbana (AU) engendrada pelo poder público, por agricultores dos referidos bairros sociais e pelas novas iniciativas propostas pela juventude, bem como são instauradas as dinâmicas relacionais entre esses atores.
Nas últimas décadas, os riscos associados à alimentação têm estado na ordem do dia. Algumas dessas preocupações radicam nos “sustos alimentares” trazidos pela Gripe das Aves ou pela Doença das Vacas Loucas. Simultaneamente, tem crescido a gama de suspeitas populares sobre a origem, composição e integridade dos alimentos. Apesar da aparente novidade desta situação. os medos alimentares acompanham a humanidade desde os primórdios e, segundo autores como Fischler, decorrem da condição de omnívoro. Os humanos sobrevivem com dietas muito diversas. Mas o omnivorismo tem como contrapartida alguma angústia perante a novidade e a necessidade de escolher. Atualmente, há outras ansiedades associadas à alimentação, que se manifestam nos discursos que questionam a capacidade dos indivíduos se alimentarem de forma adequada. Há um receio de que as famílias já não partilhem a mesa no dia-a-dia, facto encarado como indicador da dissolução de uma certa noção de família. Estes discursos têm uma componente moral e, embora não correspondam à realidade observada, são usados, por vezes, para caracterizar jovens adultos ou famílias em situação de pobreza.
Sinead D’Silva, Research Fellow at Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa)
In this blog post, I want to spend some time talking about the motivation behind my research, exemplified through the active form of resistance and sense of place-making by young people in Goa as they make sense of their futures by confronting their present and past.
First, I will provide an overview of the project, followed by some primary observations and an example of why I feel it is crucial to not forget that even in situations of seeming complacency or even existence for sustenance, resistance may eventually emerge. Finally I will explain the expected direction for the research to proceed. Here, the young person is located within the research as considerations are made regarding ‘futures’.
Um ano após o surgimento dos primeiros sinais de Covid-19, e do confinamento instituído pela declaração do carácter pandémico da doença, distinguem-se alguns contornos das transformações ocorridas em dimensões diversas da realidade social, que originam questionamentos e prenunciam mudanças. A pandemia lançou às sociedades o desafio principal de enfrentar a liberdade humana, destacou, em entrevista, Steve Fuller, sociólogo e orador convidado na conferência interdisciplinar que organizámos no ICS-ULisboa, no final de 2019, acerca das implicações da inteligência artificial e big data nos quotidianos, direitos humanos e na democracia. Quando a pandemia se dissipar, como vão definir a sua versão de normal? O problema torna-se muito mais exigente, de acordo com Fuller, para os regimes que têm defendido a liberdade, já que os outros supõem que, ultrapassado o vírus, reentram rapidamente na versão anterior.
Andreia Micaela Nascimento é doutoranda em Sociologia (OpenSoc) no ICS-ULisboa
As inquietações que motivaram o desejo de estudar os projetos de vida ligados ao ensino superior dos jovens estudantes finalistas do ensino secundário na Madeira surgiram de pistas soltas, resultantes de um longo percurso de trabalho e de pesquisa sobre os estudantes da Universidade da Madeira (UMa), em especial, sobre as suas dificuldades, escolhas e motivações.