Sentidos e suportes da arte entre estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro | 11h | Sala 2




No dia 15 de novembro, pelas 11h, o LIFE Seminars contará com a participação de Maria Pereira, da Universidade Federal Fluminense (PPG-Educacao) e doutoranda visitante no ICS-ULisboa.

A pesquisa problematiza o lugar da arte entre jovens de camadas populares do estado do Rio de Janeiro, a partir de análise sociológica. Quais os sentidos atribuídos pelos sujeitos à expressão artística? O que os mobiliza a fazer arte? Interessa conhecer sobretudo em que medida a prática artística oferece suportes a esta juventude face a seus desafios comuns e às condições de acesso a arte.

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Investigação à deriva – Museus, jovens e uma pandemia


Carolina Silva, investigadora auxiliar no ICS-ULisboa.


18.03.2020. Regressava passados quase sete anos a Lisboa. Uma viagem planeada para Julho, mas antecipada inesperadamente pela pandemia. Tivemos quatro dias para tomar uma decisão, empacotar a casa, marcar e remarcar viagens, suspender planos e sair.

Londres-Lisboa. Foi talvez o voo mais silencioso que fiz. O medo, a incerteza e a expectativa de chegar a casa eram partilhados por todos, espaçadamente sentados. Numa altura em que nada era claro, aterrámos numa cidade prestes a fechar.

Passaram-se quase dois meses.

Neste tempo suspenso, de espera colectiva, fui acompanhando o encerramento dos museus um pouco por todo o mundo. Um encerramento físico que deu gradualmente lugar a iniciativas no espaço virtual. Para Karen Gron, Directora do Trapholt Museum of Modern Art and Design na Dinamarca, os museus que já desenvolviam um trabalho de continuidade com os seus públicos estavam melhor preparados para lidar com os desafios do confinamento, do que os museus que dependiam maioritariamente de públicos transitórios, nomeadamente turistas, e de estratégias de vendas, resultantes, por exemplo, dos seus restaurantes e livrarias. Este pressuposto é evidente na capacidade de resposta que os programas de jovens em museus de arte contemporânea tiveram.[1]

Exemplos de resiliência, resultado de um investimento sustentado, ao longo das últimas décadas, numa abordagem de cocriação – com e para os jovens -, destaco, no panorama internacional, três projetos desenvolvidos durante o primeiro confinamento: Pause – A digital Teen Night, dos MOCA Teens, Museum of Contemporary Art de Los Angeles (EUA); GENEXT Goes Online, do Youth Committee, Museum of Contemporary Art Australia; e Home: Live > In Room do programa de jovens da Whitechapel Gallery. No contexto nacional, onde a relação das instituições culturais com os jovens, fora do âmbito escolar, se começa a firmar, evidenciam-se os programas BoCA Sub-21 e o Imagina 15-25 da Fundação Calouste Gulbenkian. Todos, em diferentes graus, se adaptaram criativamente às restrições impostas pela pandemia, um caminho trilhado com os jovens, em resposta aos seus interesses e inquietações.

A relação entre museus e jovens, com ênfase para o contexto português e para o investimento recente, a nível internacional, em programas profissionalizantes para jovens em museus de arte contemporânea, é o foco do meu projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums”, em curso no ICS, no âmbito de uma bolsa Marie Curie (2020-2023). De que forma podem programas continuados em museus contribuir para o desenvolvimento pessoal, sociocultural e profissional dos seus participantes? Quais são as percepções, motivações e expectativas dos jovens ao participar em programas educativos e de formação profissional em museus de arte contemporânea? Em que medida se articulam com as suas ambições profissionais no sector cultural e criativo?

Usando uma abordagem de investigação colaborativa, o projeto está a ser desenvolvido em parceria com o maat – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, e em diálogo com a ecologia sociocultural envolvente. Com enfoque no crescente investimento dos museus em programas profissionalizantes, irei investigar o potencial de uma programação por etapas (tier-based program) para envolver este grupo etário, entre os 15 e os 25 anos, uma vez que oferece aos participantes diferentes oportunidades de acesso ao museu. Pretendo também compreender a forma como estes programas podem gerar mudanças nas atitudes institucionais em relação aos jovens e influenciar a sua programação futura para este grupo.

Com início em Setembro de 2020, no epicentro da pandemia, tornaram-se igualmente visíveis os desafios e as oportunidades de pensar a relação dos jovens com os museus neste contexto. Se, por um lado, o encerramento dos museus condicionou a sua oferta educativa e trabalho de extensão, por outro lado, criou um momento de reflexão raro no acelerado passo da programação cultural. Havia agora uma disponibilidade, a nível nacional e internacional, para pensar sobre o trabalho feito e sobre o futuro, cuja incerteza abria portas a soluções mais experimentais. Foi importante aproveitar esta fissura como ponto de entrada e de diálogo com os interlocutores culturais do território do projecto, o eixo de Belém, Ajuda e Alcântara, entretanto estendido também a Almada.

A rede que comecei a criar com profissionais da área educativa do maat, BoCA, Casa da Cerca, Galerias Municipais e LU.CA, ganhou uma expressão inesperada. E com ela uma nova questão de investigação: pensar o potencial de uma programação por etapas não apenas dentro de uma instituição, mas entre instituições, permitindo aos jovens um percurso mais autónomo, diversificado e participativo na programação cultural que lhes é dirigida. Central para este diálogo será também a voz dos jovens e de outros interlocutores sociais, nomeadamente representantes das Juntas de Freguesia, Agrupamentos de Escola, instituições sociais e associações juvenis. O momento destes contactos foi adiado pelas restrições impostas pela pandemia. Há uma dimensão interpessoal, da ordem dos afetos, determinante na criação de relações de proximidade e de confiança. Se a miríade de plataformas digitais disponíveis para encontros online nos permite chegar a quase todo lado, os encontros presenciais criam, potencialmente, espaços de partilha mais significativos. A importância da presença torna-se mais evidente quando se pretende chegar a interlocutores à partida distantes do espaço do museu e das suas práticas, incluindo da programação com e para jovens.

O pressuposto de uma investigação colaborativa é o de incerteza, ou de desconhecido, perante um caminho que se quer feito com e não sobre. Este pressuposto é exponenciado quando a ele se alia uma incerteza global sobre o presente e, também, sobre o futuro. Recordo o conceito de deriva, proposto por Guy Débord e os Situacionistas: “In a dérive one or more persons during a certain period drop their relations, their work and leisure activities, and all their other usual motives for movement and action, and let themselves be drawn by the attractions of the terrain and the encounters they find there” (Débord, 1956/2001, para. 2). Interessa-me este movimento sem rumo, onde se encontram caminhos não antecipados, aliado, como no processo situacionista de deriva, a um questionamento crítico desses mesmos encontros. Pensar a relação entre museus e jovens em tempos de pandemia é colocar a incerteza ao centro e investigar com ela.


[1] Silva, C. (2021). Pockets of resilience – The creative responses of youth collectives in contemporary art museums during lockdown. (Artigo submetido para publicação)


Carolina Silva é investigadora auxiliar no ICS-ULisboa, com uma bolsa Marie Skłodowska-Curie. Actualmente está a desenvolver o projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums” em parceria com o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT). É doutorada em Educational Studies pelo Goldsmiths, Universidade de Londres, com tese sobre colectivos de jovens em museus de arte contemporânea. Entre 2017 e 2020 foi curadora do programa para comunidades na Whitechapel Gallery em Londres. Tem trabalhado e publicado sobre educação em museus, educação artística e cultura visual, práticas artísticas e pedagogias participativas.


Como citar este artigo: Silva, Carolina (2021). Investigação à deriva – Museus, jovens e uma pandemia. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2021/05/18 18 de maio (Acedido a xx/xx/xx)

Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums| 26 Janeiro | 11h





Na próxima terça-feira, dia 26 de janeiro de 2021, o LIFE Webinars contará com a participação de Carolina Silva, do ICS-ULisboa.


Os jovens são muitas vezes vistos como ‘outsiders’ nos públicos dos museus, especialmente quando considerados como visitantes independentes – fora do contexto escolar ou de visita em família. No entanto, nas últimas décadas tem-se registado um crescente investimento em programas para jovens, com destaque para iniciativas continuadas, sustentadas numa abordagem de cocriação – para e com os jovens.

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Sílvio Carvalho e a performance biográfica pela canção com docentes do ensino básico

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Sílvio Roberto Silva Carvalho, graduado em Pedagogia e doutor em Artes Cénicas, é professor adjunto da Universidade Federal da Bahia.

Ateliês de performances biográficas pelas canções populares: impactos de uma experiência (autoformativa) é a pesquisa de pós doutoramento que desenvolve como investigador-visitante no ICS-ULisboa, com a supervisão de José Machado Pais.

Que estudo tem em mãos?
Um estudo sobre a potência da canção popular na produção de processos de subjetividade, desenvolvida no meu doutoramento (Construções Biográficas pelas Canções Populares), e que será publicada, ainda este ano, pela Cátedra de Leitura da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Há um ano retomei a pesquisa sobre a temática, com foco na formação continuada de professores da Escola Básica. A estratégia é a realização de ateliês de performances biográficas pelas canções, com professores da Escola Básica, nas cidades de Braga e Guimarães.

Infelizmente, a pandemia interrompeu o andamento do projeto. Os sujeitos da pesquisa, com o ensino remoto, não tiveram condições físicas e psicológicas para continuarem, mesmo virtualmente. Portanto, estou a repensar o projeto.

Como o situa no seu percurso biográfico/académico?
Nunca pensei ser professor. Sempre quis ser artista. Desde os 12 anos toco violão, gosto de cantar e contar. Acontece que sou de uma família pobre, nascido em uma cidade pequena do interior da Bahia, onde livros eram coisa rara. Mas os sonhos de estudar, ser artista e morar na cidade grande eram maiores que as limitações. Ao chegar em Salvador, com 18 anos, tive que trabalhar para me sustentar e ajudar meus pais nas despesas com a família que, àquela altura, era formada por mais seis filhos além de mim, o mais velho. A vida foi difícil, mas com muitas possibilidades.

Ao fazer o vestibular para ingressar na Universidade não tive dúvida: matriculei-me no curso de música. Fui aprovado, mas não pude cursá-lo, o curso era diurno e eu trabalhava o dia inteiro. Como só tinha horário livre à noite, procurei um curso noturno. O único que me agradou foi pedagogia. Na universidade descobri que havia muitas possibilidades para incluir as minhas artes nos processos pedagógicos.

Todo o meu percurso de pesquisa (especialização, mestrado e doutorado), de uma certa maneira, foi voltado para questões relacionadas à leitura de mundo, de si e do outro, sempre utilizando-me da canção. E por trabalhar com essas questões de leitura, senti-me estimulado e, de certa maneira, na obrigação de pensar uma metodologia de trabalho que possibilitasse a ressignificação das questões subjetivas dos sujeitos participantes, que gerasse uma abertura na relação desses com os saberes formais e não formais e, consequentemente, que pudesse ser um campo concreto de pesquisa.

Amparado nas abordagens (auto)biográficas, passo a desenvolver os ateliês de performances biográficas pelas canções populares, uma proposta teórico-metodológica de autoformação, que, através das histórias de vida, busca colocar em cena o “eu” e o “outro” e tem como ponto de partida as canções que marcaram as vidas dos sujeitos. É com esse trabalho que me coloco na condição de pesquisador e educador, inclusive como investigador-visitante do ICS. Mas gosto muito de me afirmar como professor-artista. Ou vice-versa, a depender da situação.

O violão, as canções e as narrativas sempre estiveram presentes na minha vida de estudante de pedagogia, de professor universitário, de palestrante etc. Não sei fazer nada sem envolver essa tríade, sem trazer a minha arte intuitiva.

O recolhimento e o isolamento social gerados pela atual situação pandémica inspiraram muitas canções e performances em novas janelas. Inspirador para o seu objecto e/ou método de estudo?
Certamente. O recolhimento e o isolamento social foram fundamentais para repensar o meu objecto e o próprio método de estudo. Por exemplo, vi a possibilidade de construir um formato online para desenvolver os ateliês. Embora já tivesse feito muita coisa nas linguagens das novas tecnologias, ainda não tinha pensado, concretamente, na possibilidade de realizá-los virtualmente.

Neste período, também, observei a música como a grande companheira de muitas pessoas, inclusive daquelas que não tinham ou perderem o hábito de ouvir música de forma contemplativa. Eu mesmo me vi apreciar, de forma muito diferente, canções que considerava razoáveis. Durante o isolamento social, essas canções ganharam, de mim, novos significados.

O recolhimento e o isolamento social inspiraram-me, também, a produzir novas canções e performances em novas janelas. Pelo menos uma nova canção ficará pronta até o meu retorno ao Brasil. Novas performances foram produzidas por mim durante o respectivo período, em forma de série de vídeos: Histórias de Maria. É um trabalho autobiográfico, centrado nas ambiências afetivas produzidas pela personagem principal: Maria.

Onde viveu a maior parte da sua vida e o que gostaria de destacar desse lugar?
A maior parte da minha vida vivi em Salvador/Brasil. Saí da minha terra natal, Inhambupe (interior da Bahia), com 18 anos, a fim de estudar e trabalhar na capital.

Inhambupe era uma pequena cidade do nordeste brasileiro, marcada por uma praça, uma igreja católica no centro, algumas ruas, duas escolas primárias e um colégio secundário, uma população urbana com aproximadamente 4 mil habitantes, uma feira animada por cantadores de cordel, um cinema improvisado e um alto-falante que funcionava das 18 às 22 horas, com energia elétrica à base de um gerador que só funcionava, também, nesse mesmo período de horas.

Livros, por lá, eram coisa rara. Mas, até à adolescência, as narrativas e as canções lançaram mundos na minha imaginação e ajudaram-me a transpor os limites impostos pelas condições econômicas em que vivíamos. Em outras palavras, foram o ponto de partida para que algo se movesse em mim, fizeram-me romper tratados, trair ritos, ajudaram-me a ampliar o tempo, a transcender o presente e a inventar mares e cais. Ou seja, impediram-me de ficar fora do mundo.

Por fim, as narrativas e as canções de alto-falante (conceito que uso na minha tese) foram os meus livros, fizeram-me leitor. Essas experiências, construídas em Inhambupe, foram imperativas na minha formação, no meu gosto pela palavra, pela música, pela arte.

Em Salvador, o encantamento com o mundo urbano. Os cinemas, os teatros, a universidade, o estádio de futebol, os bares, o mar… Apaixonei-me pela cidade. Hoje, é nela e dela que vivo. De Inhambupe trago os princípios, os valores, as crenças, os saberes não formais. De Salvador, a formação acadêmica, a descoberta de novas belezas, a sobrevivência.

Que músicas e que histórias biográficas vêm despertando da sua vivência em Portugal?
Nesses tempos de isolamento, até mesmo pelo fato de não ter podido desenvolver os ateliês junto aos professores das escolas selecionadas para a pesquisa, muitas foram as canções que me visitaram, inclusive os fados antigos que ouvia quando era criança. Contudo, a emoção mais forte aconteceu no dia primeiro de maio.

Às 20 horas, inesperadamente, ouvi os sinos da igreja, que fica ao lado da minha casa em Braga, tocarem “Treze de Maio”, canção religiosa que conta a aparição da Virgem Maria aos pastorinhos de Fátima. Logo nas primeiras notas, indentifiquei os primeiros versos: “A treze de maio / na Cova da Iria / No céu aparece / A Virgem Maria”. A minha infância veio toda e fiquei muito emocionado. Primeiro, as imagens das meninas da minha terra natal vestidas de anjos, a levar flores para Nossa Senhora durante todo o mês de maio. Depois, as imagens da minha madrinha a contar-me a história dos três pastorinhos, da Cova da Iria, da cidade de Fátima, da aparição da Virgem, e eu ali, junto a ela, com medo de que a Santa aparecesse para mim.

A partir desse dia, uma nova canção vinha-me à lembrança e remetia-me ao período da minha infância, em Inhambupe. A emoção era muito forte e fazia lembrar-me da minha madrinha a contar-me uma história ou a ouvir o repertório musical que tocava no rádio da sua casa. Foram tantas as lembranças que resolvi contar as minhas primeiras experiências estéticas e de descobertas do mundo construídas nas ambiências leitoras produzidas por Maria, a madrinha.

A princípio, resolvi escrever crônicas. Por fim, produzi uma série de vídeos, com sete episódios, cada um em torno de quinze a vinte minutos, intitulada Histórias de Maria. Na verdade, essa passou a ser a minha atividade de produção acadêmica e artística: pesquisar sobre a díade marcada, principalmente, pela reciprocidade e o afeto. Assim, criei um cenário que pudesse remeter a um ambiente doméstico permeado pela leitura. Sentado em uma cadeira, ao lado de uma pequena mesa com livros, uma caneca e um lampião, eu conto e canto as histórias e canções que marcaram a relação entre o menino e sua fada madrinha. A série está disponibilizada no meu canal de Youtube. As canções que me chegavam eram de gêneros diversos. Foi uma experiência maravilhosa e acho que vai terminar em um livro.

No prelúdio da canção “Acho que chegou a hora”, o músico português Tiago Bettencourt diz que “não é boa ideia deixar assuntos pendentes a não ser que seja numa canção”. Alguma coisa pendente, na sua busca, neste momento? Ou alguma canção para o exprimir?
Nas canções, alguma coisa sempre parece ficar pendente. Mas não é mesmo boa ideia deixar assuntos pendentes. A minha mãe nos botava sentados ao seu lado para bordarmos enormes peças de cama e mesa. Eventualmente, ela alertava: “Preste atenção à costura. Se der um ponto errado desfaça-o imediatamente. Com a costura pronta não tem como desfazer-se um ponto errado”. Entretanto, por mais cuidado que se tenha com o bordado, alguma pendência parece ficar.

A pandemia produziu, entre outras coisas, frustrações. A minha grande frustração, que tomo como pendência, foi: o trabalho de investigação e formação que me propus a desenvolver, aqui em Portugal, não pode ser concluído. Apesar de ter apelado para outras formas, como o virtual, não consegui realizar os ateliês. Essa é uma pendência, uma grande frustração.

É claro que construí outras coisas. Mas a minha vinda foi com esse objetivo e esse ainda não foi cumprido. Portanto, como diz uma canção minha e da Roseana Murray, chamada Espera: “Aqui estou / De pé na sua porta / Na sua pele / Bato palmas / Toco os sinos / Num sortilégio estranho / Digo o teu nome tantas vezes / Que o mar adormece”. Espero, assim, voltar um dia e resolver essa pendência.

O que esperava encontrar na Academia portuguesa?
Esperava encontrar um ambiente rico em produções acadêmicas, muito formal e com grandes possibilidades para a ampliação dos meus estudos. Além disso, esperava encontrar as condições ideais para o trabalho acadêmico, uma vez que, no Brasil, temos muitas dificuldades de toda ordem (administrativa, econômica e política).

O que já encontrou?
Tudo o que eu esperava. Nesse sentido, a minha expectativa não foi frustrada. Ao contrário. Além de encontrar um ambiente com muita produção científica, com grandes possibilidades para a ampliação dos meus estudos, experienciei, aqui, coisas pouco comuns no mundo acadêmico. Primeiro, a solidariedade, a generosidade e a sensibilidade do Professor José Machado Pais, meu supervisor. O acolhimento do Professor Vitor Sérgio Ferreira, ao me convidar para participar dos seminários do Grupo LIFE, foi, também, uma marca da generosidade e sensibilidade que cercam o ICS.

Segundo, destaco a maneira generosa como o meu trabalho de pesquisa e formação, tanto em Lisboa como em Braga e em Guimarães, foi recebido. Em Braga, tive ainda o apoio incondicional do Professor Carlos Veiga, da direção da Escola André Soares e das professoras que se envolveram no projeto de pesquisa e formação. Em Guimarães, o apoio da Professora Luíza foi também generoso. Portanto, retornarei ao Brasil com a melhor impressão possível sobre a Academia Portuguesa e, especialmente, sobre as pessoas com quem tive contato direto.

Bio

É graduado em Pedagogia e doutor em Artes Cénicas. É professor adjunto da Universidade do Estado da Bahia e trabalha com temáticas voltadas para a (auto)biografia, arte, educação, formação de professores, leitura e família. Pesquisa sobre a potência da canção na produção de subjetividades e desenvolve, em diversos grupos e instituições, o Ateliê de Performances Biográficas pelas Canções Populares, proposta metodológica para a autoformação e construção de uma ética crítica e interpretativa, da vida como um valor. Atua como palestrante e consultor. É, também, cantor, compositor e contador de histórias.

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As promessas e as aporias do digital: uma obra coletiva para pensar a digitalização da cultura e da arte

José Marmeleira é crítico e jornalista. Prepara uma tese de doutoramento sobre a arte e a cultura em Hannah Arendt no Programa Doutoral em Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade da Universidade de Lisboa


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Capa do livro Cultura e Digital em Portugal

Organizado por três sociólogos, Teresa Duarte Martinho (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), João Teixeira Lopes (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e José Luís Garcia (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), Cultura e Digital em Portugal oferece um panorama plural e alargado do trabalho académico que tem vindo a ser realizado em torno do tema da digitalização na arte e na cultura. Ensaios, estudos de caso, análises de iniciativas e pesquisas empíricas e, acima de tudo, pontos de vista diversos e sensibilidades distintas compõem esta obra coletiva que, em certa medida, é uma continuação do colóquio realizado, há dois anos, no Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa. Trata-se de uma publicação com a chancela das Edições Afrontamento, integrando a coleção Biblioteca das Ciências Sociais.

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