Sentidos e suportes da arte entre estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro | 11h | Sala 2




No dia 15 de novembro, pelas 11h, o LIFE Seminars contará com a participação de Maria Pereira, da Universidade Federal Fluminense (PPG-Educacao) e doutoranda visitante no ICS-ULisboa.

A pesquisa problematiza o lugar da arte entre jovens de camadas populares do estado do Rio de Janeiro, a partir de análise sociológica. Quais os sentidos atribuídos pelos sujeitos à expressão artística? O que os mobiliza a fazer arte? Interessa conhecer sobretudo em que medida a prática artística oferece suportes a esta juventude face a seus desafios comuns e às condições de acesso a arte.

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Marina García-Carmona

Marina García-Carmona é Professora e Investigadora na área da Educação na Universidade de Granada, Campus de Melilla. Encontra-se atualmente a fazer um período de mobilidade de um ano no ICS-ULisboa, junto ao grupo de investigação LIFE, para aprofundar a sua pesquisa sobre liderança educacional em contextos multiculturais. Fomos conversar com ela.

Entrevista realizada por Ana Sofia Ribeiro, ICS-ULisboa.

Como teve oportunidade de fazer este período de mobilidade no ICS? Quais são as razões para escolher Lisboa e Portugal para este período?
Estou a fazer esta estadia de um ano (em dois períodos de 6 meses) no ICS graças às Bolsas para a Requalificação do Sistema Universitário Espanhol para 2021-2023. Esta subvenção é financiada com fundos do programa Next Generation da União Europeia. É uma grande oportunidade para conhecer outros contextos de investigação e aprender sobre diferentes aspetos culturais e de trabalho das instituições onde a estadia tem lugar. Também acredito que se trata de uma experiência de crescimento pessoal.

As razões para escolher Portugal e especificamente a cidade de Lisboa são sobretudo três. Em primeiro lugar, escolhi a Universidade de Lisboa porque é uma das melhores instituições de ensino em Portugal e no mundo (de acordo com rankings nacionais e internacionais). A escolha do grupo de investigação LIFE (Life Course, Inequality and Solidarity: Practices and Policies) liderado pelo Doutor Vítor Sérgio Ferreira, deve-se à sua natureza multidisciplinar e ao seu trabalho de referência em áreas relacionadas com a educação, tais como sociologia e antropologia, entre outras. Em segundo lugar, estou interessado no funcionamento das instituições educacionais do país. No contexto internacional, Portugal é por vezes mencionado como “a nova Finlândia” quando se fala sobre os bons resultados educacionais dos alunos. Sempre tive a curiosidade de mergulhar nesta discussão e ver como, a partir das nossas “singularidades ibéricas” (Portugal e Espanha), os contextos educativos poderiam tornar-se líderes mundiais, não só pela sua qualidade pedagógica, mas também através de um compromisso para integrar a diversidade cultural dos seus territórios. Em terceiro lugar, e na sequência desta última ideia, estou interessada em contextos culturalmente diversos. A cidade de Lisboa tem uma longa tradição de migração e é um dos municípios com o maior número de estrangeiros em Portugal. Esta riqueza cultural reflete-se no seu sistema educativo e, por conseguinte, nas suas salas de aula. Assim, o funcionamento dos agrupamentos escolares da cidade neste contexto é tão importante para o meu estudo. Estas três razões são uma prioridade para poder realizar aqui o meu projeto de investigação, como explicarei mais tarde.

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Diversidade sexual e de género em Espanha na perspetiva do curso de vida: desafios e experiências de transferência de conhecimento | 18 janeiro | 11h




No dia 18 de janeiro, pelas 11h, o LIFE Webinars contará com a participação de Luis Puche, investigador na Universidade de Málaga, Espanha e investigador visitante no ICS-ULisboa.

Pode aceder ao seminário AQUI.

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Investigação à deriva – Museus, jovens e uma pandemia


Carolina Silva, investigadora auxiliar no ICS-ULisboa.


18.03.2020. Regressava passados quase sete anos a Lisboa. Uma viagem planeada para Julho, mas antecipada inesperadamente pela pandemia. Tivemos quatro dias para tomar uma decisão, empacotar a casa, marcar e remarcar viagens, suspender planos e sair.

Londres-Lisboa. Foi talvez o voo mais silencioso que fiz. O medo, a incerteza e a expectativa de chegar a casa eram partilhados por todos, espaçadamente sentados. Numa altura em que nada era claro, aterrámos numa cidade prestes a fechar.

Passaram-se quase dois meses.

Neste tempo suspenso, de espera colectiva, fui acompanhando o encerramento dos museus um pouco por todo o mundo. Um encerramento físico que deu gradualmente lugar a iniciativas no espaço virtual. Para Karen Gron, Directora do Trapholt Museum of Modern Art and Design na Dinamarca, os museus que já desenvolviam um trabalho de continuidade com os seus públicos estavam melhor preparados para lidar com os desafios do confinamento, do que os museus que dependiam maioritariamente de públicos transitórios, nomeadamente turistas, e de estratégias de vendas, resultantes, por exemplo, dos seus restaurantes e livrarias. Este pressuposto é evidente na capacidade de resposta que os programas de jovens em museus de arte contemporânea tiveram.[1]

Exemplos de resiliência, resultado de um investimento sustentado, ao longo das últimas décadas, numa abordagem de cocriação – com e para os jovens -, destaco, no panorama internacional, três projetos desenvolvidos durante o primeiro confinamento: Pause – A digital Teen Night, dos MOCA Teens, Museum of Contemporary Art de Los Angeles (EUA); GENEXT Goes Online, do Youth Committee, Museum of Contemporary Art Australia; e Home: Live > In Room do programa de jovens da Whitechapel Gallery. No contexto nacional, onde a relação das instituições culturais com os jovens, fora do âmbito escolar, se começa a firmar, evidenciam-se os programas BoCA Sub-21 e o Imagina 15-25 da Fundação Calouste Gulbenkian. Todos, em diferentes graus, se adaptaram criativamente às restrições impostas pela pandemia, um caminho trilhado com os jovens, em resposta aos seus interesses e inquietações.

A relação entre museus e jovens, com ênfase para o contexto português e para o investimento recente, a nível internacional, em programas profissionalizantes para jovens em museus de arte contemporânea, é o foco do meu projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums”, em curso no ICS, no âmbito de uma bolsa Marie Curie (2020-2023). De que forma podem programas continuados em museus contribuir para o desenvolvimento pessoal, sociocultural e profissional dos seus participantes? Quais são as percepções, motivações e expectativas dos jovens ao participar em programas educativos e de formação profissional em museus de arte contemporânea? Em que medida se articulam com as suas ambições profissionais no sector cultural e criativo?

Usando uma abordagem de investigação colaborativa, o projeto está a ser desenvolvido em parceria com o maat – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, e em diálogo com a ecologia sociocultural envolvente. Com enfoque no crescente investimento dos museus em programas profissionalizantes, irei investigar o potencial de uma programação por etapas (tier-based program) para envolver este grupo etário, entre os 15 e os 25 anos, uma vez que oferece aos participantes diferentes oportunidades de acesso ao museu. Pretendo também compreender a forma como estes programas podem gerar mudanças nas atitudes institucionais em relação aos jovens e influenciar a sua programação futura para este grupo.

Com início em Setembro de 2020, no epicentro da pandemia, tornaram-se igualmente visíveis os desafios e as oportunidades de pensar a relação dos jovens com os museus neste contexto. Se, por um lado, o encerramento dos museus condicionou a sua oferta educativa e trabalho de extensão, por outro lado, criou um momento de reflexão raro no acelerado passo da programação cultural. Havia agora uma disponibilidade, a nível nacional e internacional, para pensar sobre o trabalho feito e sobre o futuro, cuja incerteza abria portas a soluções mais experimentais. Foi importante aproveitar esta fissura como ponto de entrada e de diálogo com os interlocutores culturais do território do projecto, o eixo de Belém, Ajuda e Alcântara, entretanto estendido também a Almada.

A rede que comecei a criar com profissionais da área educativa do maat, BoCA, Casa da Cerca, Galerias Municipais e LU.CA, ganhou uma expressão inesperada. E com ela uma nova questão de investigação: pensar o potencial de uma programação por etapas não apenas dentro de uma instituição, mas entre instituições, permitindo aos jovens um percurso mais autónomo, diversificado e participativo na programação cultural que lhes é dirigida. Central para este diálogo será também a voz dos jovens e de outros interlocutores sociais, nomeadamente representantes das Juntas de Freguesia, Agrupamentos de Escola, instituições sociais e associações juvenis. O momento destes contactos foi adiado pelas restrições impostas pela pandemia. Há uma dimensão interpessoal, da ordem dos afetos, determinante na criação de relações de proximidade e de confiança. Se a miríade de plataformas digitais disponíveis para encontros online nos permite chegar a quase todo lado, os encontros presenciais criam, potencialmente, espaços de partilha mais significativos. A importância da presença torna-se mais evidente quando se pretende chegar a interlocutores à partida distantes do espaço do museu e das suas práticas, incluindo da programação com e para jovens.

O pressuposto de uma investigação colaborativa é o de incerteza, ou de desconhecido, perante um caminho que se quer feito com e não sobre. Este pressuposto é exponenciado quando a ele se alia uma incerteza global sobre o presente e, também, sobre o futuro. Recordo o conceito de deriva, proposto por Guy Débord e os Situacionistas: “In a dérive one or more persons during a certain period drop their relations, their work and leisure activities, and all their other usual motives for movement and action, and let themselves be drawn by the attractions of the terrain and the encounters they find there” (Débord, 1956/2001, para. 2). Interessa-me este movimento sem rumo, onde se encontram caminhos não antecipados, aliado, como no processo situacionista de deriva, a um questionamento crítico desses mesmos encontros. Pensar a relação entre museus e jovens em tempos de pandemia é colocar a incerteza ao centro e investigar com ela.


[1] Silva, C. (2021). Pockets of resilience – The creative responses of youth collectives in contemporary art museums during lockdown. (Artigo submetido para publicação)


Carolina Silva é investigadora auxiliar no ICS-ULisboa, com uma bolsa Marie Skłodowska-Curie. Actualmente está a desenvolver o projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums” em parceria com o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT). É doutorada em Educational Studies pelo Goldsmiths, Universidade de Londres, com tese sobre colectivos de jovens em museus de arte contemporânea. Entre 2017 e 2020 foi curadora do programa para comunidades na Whitechapel Gallery em Londres. Tem trabalhado e publicado sobre educação em museus, educação artística e cultura visual, práticas artísticas e pedagogias participativas.


Como citar este artigo: Silva, Carolina (2021). Investigação à deriva – Museus, jovens e uma pandemia. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2021/05/18 18 de maio (Acedido a xx/xx/xx)

Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums| 26 Janeiro | 11h





Na próxima terça-feira, dia 26 de janeiro de 2021, o LIFE Webinars contará com a participação de Carolina Silva, do ICS-ULisboa.


Os jovens são muitas vezes vistos como ‘outsiders’ nos públicos dos museus, especialmente quando considerados como visitantes independentes – fora do contexto escolar ou de visita em família. No entanto, nas últimas décadas tem-se registado um crescente investimento em programas para jovens, com destaque para iniciativas continuadas, sustentadas numa abordagem de cocriação – para e com os jovens.

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Carolina Silva e a educação e formação para jovens em museus de arte contemporânea

Carolina Silva é investigadora no ICS ULisboa com uma Bolsa Marie Curie – Career restart (2020-2023), com o projecto “Educational provision and professional training for youth in contemporary art museums”, com supervisão de Vítor Sérgio Ferreira.

Quando é que o teu interesse em trabalhar/investigar o domínio da educação artística se tornou uma coisa ‘séria’?
É um interesse movido por uma grande curiosidade e inquietude, e como tal é acima de tudo uma coisa ‘viva’. Embora tenha formação em belas artes, como artista, desde cedo percebi que me interessava tanto ou mais pelas relações que as pessoas criam com a arte, e entre si através da arte, do que pela arte enquanto prática individual. A educação artística em Portugal é uma área pouco densa, tanto no domínio profissional como da investigação, o que não ajudou a ancorar a minha vontade em explorar este território. Diria por isso que foram vários encontros e momentos ao longo do meu percurso que contribuíram e contribuem para ver o meu trabalho em educação artística também como uma coisa ‘séria’.

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A imigração e seus possíveis impactos durante a adolescência: o caso de jovens brasileiros na Costa da Caparica

fotoCláudia Pereira é professora e investigadora na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e investigadora-visitante no ICS-ULisboa.


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Foto: Cláudia Pereira
Painel grafitado – Entrada da Praia Tarquino – Paraíso – Costa da Caparica

No passado dia 11 de janeiro dividi com colegas do ICS-ULisboa alguns apontamentos sobre a pesquisa “Culturas juvenis e migração: uma perspectiva comparada entre Rio de Janeiro e Lisboa”, resultantes do trabalho de campo realizado durante o período em que permaneci como investigadora-visitante nessa instituição, entre agosto de 2018 e janeiro de 2019, sob a preciosa supervisão do Professor José Machado Pais.

Inicialmente, o projeto de investigação previa, como o próprio título afirma, uma comparação entre jovens brasileiros residentes em Lisboa e jovens portugueses residentes no Rio de Janeiro. Porém, quis o destino que eu estabelecesse minha morada temporária na Costa da Caparica, concelho de Almada. Continuar a ler